domingo, 7 de março de 2010

O ser Mulher...O ser Mãe. Ser ou Não ser...Eis a questão


Na semana da mulher, proponho uma reflexão sobre o tema Ser Mãe, não falando exatamente do lado positivo ou negativo desse momento, mas da consciência desse estado que não é momentâneo e sim eterno. Não quero, aqui, alertar... É apenas uma ousadia a pensar “alto” acerca do direito de escolha da mulher. Mãe, ser ou não ser?

Convido-a a pensar junto comigo...


Durante o curso que participei  no Prana Dhama, sobre a técnica Ayurveda (Garbhini Abhyanga), que significa massagem para gestantes, descobri que os conceitos de maternidade, gestação e gravidez vão muito além do sentido físico da palavra. Essas três palavras estão basicamente e profundamente envolvidas com o significado de SER MÃE, identidade feminina, que por sua vez diz respeito a toda conjuntura social, transformações ocorridas na sociedade ao longo dos anos, principalmente no que se refere à mulher.

O meu entendimento sobre ser mãe não se restringe somente às transformações internas, fisiológicas, pois tudo e todos mudam em sua volta. A casa, o pai, os filhos, e muda para sempre, não tem volta. Por isso, acredito que quando uma mulher toma a decisão de ser mãe, seria interessante que ela planejasse com dois anos, pelo menos, de antecedência. Sim, porque a casa interna precisa ser arrumada para receber um convidado muito especial que lá irá se hospedar por nove meses.

No decorrer do curso, quando a professora, Damar Marvid problematizou o assunto com a pergunta sobre o significado de gestação, o que veio em minha mente foi a palavra gestão. Se nós pararmos para pensar um pouco, perceberemos que a gestação acontece desde o momento em que a mulher se programa, planeja com antecedência ser mãe. Isso não seria uma gestão? Gerir não teria relação com todo controle e ação proposta? Que, coincidentemente, é muito familiar com a palavra gerar. Se você planeja ser mãe não é isso que você está fazendo? Então você está gestando a chegada de um ser. Esse “cuidar da casa”, no meu entendimento, está ligado com o cuidado com a saúde mental e física da mulher, a saúde familiar. Ler bons livros, estar sempre ao lado de pessoas queridas, ouvir música, dançar, fazer atividade física, fazer um tratamento estético, prezar pelo bem-estar.

Acredito muito que quando uma mulher toma a decisão de ser mãe, ela realmente deverá sentir-se plena em sua essência, em estado de graça... Não há dúvida sobre isso. Mas ela se sentirá assim pela sua livre escolha, permissão própria. Porém, nós, mulheres, mudamos muito na forma de pensar, agir, tomar direção. Mudamos na forma de conceituar, principalmente depois dos avanços tecnológicos e da ciência. Com essa evolução, repensemos sobre o conceito de maternidade e das várias formas de ser mãe. Será que nós, mulheres contemporâneas, que fazemos parte de uma sociedade que enraíza costumes e valores construídos em tempos históricos, e que consequentemente sofrem influências, sabemos os significados da maternidade?




Existem maneiras diferentes de ser mãe? Existem mudanças na maneira de ser mãe? Se há, que tipo de transformação está ocorrendo no modo de ser mãe? As mudanças e permanências na ordem existente, interferem na maneira de ser mãe? Qual é a dimensão de ser mãe nos dias de hoje, considerando toda uma conjuntura social? Há ambivalência e/ou conflitos que a modernidade provoca na construção do modo de ser mãe? Em que isso muda ou interfere na construção de uma identidade feminina? (STASEVSKAS,199, p.4).




Eu disse permissão própria. Muito embora a mulher tenha conquistado seu espaço nesses últimos anos, ainda há certa pressão normativa, cuja tendência é impor as antigas formas de pensar e de agir. A sociedade ainda espera da mulher aquele modelo engessado de mantenedora do lar e, consequentemente, geradora. Não quero dizer com isso que sou contra a construção de um laço familiar, em hipótese alguma, mas pensar um pouco sobre o direito da mulher no que diz respeito à escolha de querer ou não ser mãe.



As mulheres teem interrogado, interferido e mudado os seus papéis, a sua condição mesma enquanto mulher e a representação que ela faz... A imagem da mulher nunca sofreu tantas mutações como nas três décadas, e nesta tensão social, psicológica e histórica, acontece também o jogo de construção e desconstrução da maternidade. (STASEVSKAS, 199, p.4).




A sociedade parece ter criado a ideia de que, uma vez a mulher na condição de mãe, conseguirá a realização plena, como se nessa nova condição ela constituísse sua verdadeira identidade. Já ouvi comentários de mulheres que demonstravam desejo em ser mãe quando falavam que já era chegada à hora de atender as “batidas do relógio biológico” e que, após terem filhos, sentiam-se a “super mulher”. A cobrança social faz com que a mulher sinta extrema necessidade em ser mãe para sentir-se “verdadeiramente” mulher. Penso que essa ideia supervalorizada que é direcionada à mulher é tão desleal para com a mesma, que parece impossível argumentar, refletir acerca do assunto.



A construção da identidade feminina e a maternidade se unem de tal forma que possivelmente a primeira tem fundamental apoio na segunda, o que leva a pensar que se, sob certos aspectos, a maternidade hoje pode ser opcional, deixa dúvidas sobre a forma e a qualidade dessa opção, pelo fato de se constituir um dos componentes centrais na formação da identidade feminina. Abrir mão da maternidade pode significar de parte importante, se não crucial, da própria identidade (STASEVSKAS, 1999, p. 9).




E o que pensar da mulher que não pode gerar filhos? Como será que ela se sente diante de tanta pressão psicológica interna e externa? Menos mulher? Mais insignificante perante o seu matrimônio? Pois, se já é tão difícil para a mulher que faz sua escolha em não ser mãe, em lidar dar com a pressão social, imagino como é cruel, sofredor para aquelas inférteis. No sentido mais amplo e cruel da palavra.... Inúteis, inválidas, coitadas.

Muito embora a mulher tenha traçado uma linha evolutiva em suas conquistas, no que diz respeito às mudanças históricas e sociais, é evidente a tensão sofrida sobre a ideia de que ela deve tornar-se mãe. Para STASEVSKAS (1999, p.158), a sociedade incentiva o desprezo ou piedade por mulheres que não teem filhos e condena aquelas que não os queiram, provocando, na melhor das hipóteses, culpa e frustração.

Penso que a sociedade deve, sim, rever o conceito de papel social e refletir sobre sua função, ter um olhar afetuoso sobre a mulher que não deseja ser mãe. Essa decisão deve ser respeitada e aplaudida. Talvez, assim, essa mulher tenha menos culpa e fique menos angustiada pela sua escolha.

Quem estiver lendo esse texto, talvez queira perguntar para mim se sou mãe. Eu respondo que não, porque proponho a mim  uma reflexão sobre a maternidade. Estou me preparando para o momento certo, e quando me refiro ao momento certo, não implica em dizer que a minha escolha seja ser mãe... Foi o que você pensou antes de concluir a leitura do parágrafo? Independentemente da escolha, será a decisão certa no momento certo. Nós, mulheres, temos o poder de fazer escolhas, e a única obrigação que temos é de fazê-las bem, quer esteja em nossos planos ter filhos, quer não. Essa decisão deve ser respeitada e aceita; em primeiro lugar por você mesma e depois pelos outros; afinal na própria natureza vemos fêmeas que não aceitam suas crias, o que nos leva a concluir que para ser mãe é preciso ter vocação.

Mãe, ser ou não ser... Apenas seja muito feliz com a sua escolha.


Feliz dia Internacional da Mulher!

Namastê!!

Agradecimentos: Damar Marvid / Maiana Galvão ( professoras do Curso Prana Dhama - Ayrveda)



Referência :


STASEVSKAS, Kimy Otsuka. SER MÃE: narrativas de hoje. 1999. 169 p., anexos. Dissertação (Mestrado)-Faculdade de Saúde Pública-Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999.

3 comentários:

Damar Marvid disse...

Namaste Tati!
Texto muito bom, mostra sua consciencia e amor.
Parabens pelo seu belo trabalho, que seu corpo consciencia se expanda e todos ao seu redor se beneficie sempre.
Beijo com carinho
Damar Marvid- Sheri

Unknown disse...

texto maravilhoso, gostaria que muitas pessoas pudessem ler este texto. realmente eu não entendo porque as pessoas se acham no direito de cobrar um filho quando um casal já tem 10 ou 15 anos de casado e optou por não tê-lo, até que se sintam preparados, ou simplesmente não querem ter filhos. E também não sei porque a sociedade nega às mulheres-mães o direito de ter sentimentos ambíguos de vez em quando com relação a seus filhos, principalmente quanto bate a TPM ou quando simplesmente estão esgotadas. Ótimo texto, te parabenizo mil vez. Um bjo

Unknown disse...

Obrigada, queridas por dar atenção ao meu texto. Fico feliz que tenham gostado!

Postar um comentário